Os bagres de Lula vão sobreviver às usinas do madeira
Pesquisa com duas espécies de grandes bagres da Amazônia conclui que os peixes constituem uma só população e podem cruzar entre si, e não somente com os que nascem em um mesmo rio
João Domingos - O Estado de S.Paulo
Uma boa notícia para os ambientalistas, desenvolvimentistas e o futuro do País, tanto do ponto de vista da preservação das espécies quanto da melhoria da infraestrutura e geração de eletricidade. As hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira, não vão exterminar os peixes amazônicos. E nem os peixes vão parar a produção de energia das usinas - 6.600 megawatts, com início da operação no ano que vem.
Pesquisa em genética com duas espécies de grandes bagres da Amazônia - dourada (brachyplatystoma rousseauxii) e piramutaba (brachyplatystoma vailantii) - feita pela cientista Jacqueline da Silva Batista, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), confirma não somente a hipótese migratória desses dois peixes, mas também que eles podem ser considerados como uma única população para fins de manejo e conservação. Significa que cruzam entre si e não somente entre os que nascem em determinado rio.
Jacqueline coletou e estudou dois tipos de DNA (mitocondrial e microssatélites) de 700 indivíduos de dourada em 33 localidades de 12 macrorregiões da Amazônia brasileira e três da Amazônia peruana. Foi colhido material das douradas no eixo Solimões/Amazonas e nos Rios Madeira, Purus, Japurá, Içá, Juruá, Tapajós e Branco, no lado brasileiro, e nos rios Amazonas, em Iquitos, Madre de Dios, em Puerto Maldonado, e Ucayali, em Pucallpa, do lado peruano.
Também foi coletado o DNA de cerca de 300 piramutabas. O material foi conservado em álcool e depois levado à sede do Inpa, em Manaus, onde Jacqueline verificou que em toda a Amazônia brasileira e peruana há uma única população de douradas - o mesmo vale para as piramutabas. Verificou também que a maior concentração da variabilidade genética da dourada está no Estuário do Amazonas - Belém, Macapá e Ilha do Marajó. Os estudos sobre douradas e piramutabas completam 12 anos em 2011.
Jacqueline fez seus estudos junto com Kyara Formiga Aquino, Izeni Pires Farias (coorientadora) e José Alves Gomes, seu orientador. Os trabalhos foram financiados pelo CNPq, Fundação de Apoio à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Pro-Várzea/Ibama, Procad/Capes, Inpa/MCT e Instituto de Investigação da Amazônia Peruana (IIap).
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