Após adiamentos, maior lixão da
América Latina fecha neste domingo
Catadores vivem incertezas enquanto aterro de Gramacho celebra fim de "crime ambiental"
Está previsto para este domingo (3) o encerramento das atividades do maior aterro sanitário da América Latina. O fechamento do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, deixa sem trabalho cerca de 1.200 catadores de lixo. Eles viverão com indenização dada pela prefeitura do Rio. Serão mais de R$ 23 milhões no total, cerca de R$ 14 mil para cada catador.
O lixão, que foi inaugurado em 1976 e recebeu por mais de 30 anos 8.400 toneladas diárias de resíduos do Estado do Rio, continuará recebendo o lixo em quantidade decrescente até este domingo, quando o último caminhão será despejado. É um final discreto para o local que, durante anos, tornou-se maior do que o bairro em que ocupa.
O lixo da cidade do Rio será enviado para o aterro de Seropédica, também na baixada, que começou a operar no mês passado. O prefeito Eduardo Paes afirma ter orgulho de resolver a questão do que ele chama de “crime ambiental”.
— O fechamento do aterro de Gramacho será feito pelos próprios catadores. Estamos dando uma solução para este crime ambiental que a cidade do Rio de Janeiro vem cometendo há mais de 30 anos. Temos muito orgulho de resolver esta questão e destinar os resíduos para um centro de tratamento adequado, em Seropédica. Essa ajuda da Prefeitura do Rio garante aos catadores a possibilidade de qualificação e oportunidades melhores no mercado de trabalho.
A ajuda anunciada por Paes é uma parceria com a Cufa (Central Única das Favelas) e com a ONG Pangea para apoiar a capacitação profissional e acompanhamento dos catadores após o fechamento do aterro.
Tião Santos, presidente da Associação do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, diz esperar que este modelo seja aplicado em outras cidades do País.
— Que este modelo de fechamento do aterro de Gramacho sirva de exemplo para outros municípios e também para o Brasil. Vamos mostrar que existe vida após Gramacho com estas parcerias que irão garantir novas chances aos catadores.
No entanto, embora os órgãos públicos planejem o futuro com confiança, é a incerteza que ronda a cabeça dos milhares de trabalhadores que tiraram seu sustento do aterro durante anos. Pessoas como Severino Ramos Nascimento, que vive do lixão há mais de 25 anos.
— Todo mundo vai ficar na pior, quando fechar. Vou ver se eles me dão emprego na usina, mas pela minha idade ninguém vai me dar. É melhor trabalhar no lixão do que ficar sem onde trabalhar. Todos que trabalham e dependem disso aí vão ficar desempregados. Quando penso que vai fechar eu fico muito triste.
Por outro lado, de acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, o fechamento do lixão trará ganho ambiental e social.
— Cada lixão desses gera uma grande quantidade de chorume, que retira o oxigênio da água. Vai ser um importante ganho para a baía o fim de todos os lixões, tanto ambientalmente como socialmente.
Seropédica está preocupada com impacto do lixo
Moradores de Seropédica estão apreensivos diante da chegada de 9.000 toneladas diárias de lixo carioca que a cidade passará a receber. Com 78 mil habitantes e 14 anos de emancipação de Itaguaí, a pequena Seropédica, a 70 km da capital, foi escolhida como destino final para o lixo carioca após disputa de oito anos que envolveu três municípios, ao menos nove ações na Justiça e acusações de irregularidades no processo de licenciamento das obras.
Se por um lado a construção do CTR (Centro de Tratamento de Resíduos) de Santa Rosa dará destinação adequada ao lixo de três municípios (Rio de Janeiro, Seropédica e Itaguaí), por outro lado, o temor de que o aterro contamine os recursos hídricos e agrave as enchentes na região preocupa ambientalistas.
O destino original do lixo carioca seria o bairro de Paciência, na zona oeste, mas a prefeitura desistiu de instalar um aterro no local pressionada pela legislação ambiental, que não permite a instalação de aterros perto de aeroportos (a Base Aérea de Santa Cruz fica na mesma região), e pela força do eleitorado da zona oeste, que tem o maior número de eleitores da capital.
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